Como recebi alguns Directs depois do Stories sobre autismo, achei por bem escrever um pouquinho mais, detalhando meu trabalho com jovens que apresentam os Transtornos de Espectro Autista – TEA.
As causas do autismo ou TEA são desconhecidas; a complexidade das alterações fisiológicas e bioquímicas que resultam na imensa variedade e severidade dos sintomas, provavelmente são quadros resultantes da combinação de diferentes genes. Esses polimorfismos genéticos {mutações no DNA} podem ser herdados ou adquiridos em função de importantes alterações ambientais de impactos negativos sobre o código genético; dentre os que tenham relevância metabólica no desenvolvimento gestacional, como stress, infecções, exposição a substâncias químicas tóxicas, desequilíbrios hormonais, etc. De acordo com respeitado artigo publicado no The Journal of the American Medical Association – JAMA, uma grande pesquisa feita no Instituto Karolinska, em Estocolmo – Suécia, analisou mais de dois milhões de crianças nascidas nesse país e revela agora que a hereditariedade, apesar de muito significativa, só explica metade do risco para se desenvolver autismo… os demais fatores têm sua origem no ambiente! A equipe de pesquisadores descobriu ainda que as causas hereditárias, ou seja, a informação genética que os pais transmitem aos filhos, explicam apenas 50% do risco de se vir a desenvolver TEA. Estudos anteriores centravam-se tendencialmente nos genes ligados às sinapses {espaço através dos quais o estímulo é transmitido de um neurônio para outro} desde sempre consideradas a “alma” do cérebro! É através das sinapses que os neurônios se comunicam para coordenar movimentos, percepções sensoriais, aprendizados e memórias.
Já o diagnóstico, baseia-se na presença de determinados padrões de comportamento. Bebês que ao mamar são incapazes de fixar o olhar nos olhos da mãe; crianças que têm dificuldade no desenvolvimento da linguagem e de estabelecer interações sociais, que manifestem extremo incômodo à situações corriqueiras, hiperativas, que apresentem gestos repetitivos, que tenham maior sensibilidade à sons ou cheiros específicos, alterações gastrintestinais importantes, alergias, eczemas, etc. Dentro do espectro de condições consideradas como autismo, apenas uma minoria dos jovens apresenta comprometimento intelectual grave; eles são, em geral, dotados de uma inteligência incrível, com capacidade por exemplo de elevar ao quadrado números de nove algarismos mais depressa do que o computador, decorar mapas de cidades onde nunca estiveram e tocar ao piano sem errar uma nota sequer, sinfonias que acabaram de ouvir!
Uma vez identificado sinais de autismo ou mesmo estabelecido o diagnóstico {precoce} a intervenção é fundamental para a aquisição dos repertórios de comunicação, socialização e autonomia, fundamentais para o desenvolvimento da criança.
E é justamente nessa intervenção que a Nutrição Ortomolecular ganha destaque, já que os nutrientes, oligoelementos e bioativos têm o poder de equilibrar inúmeras funções orgânicas {inclusive as neuronais} bem como orquestrar as vias hormonais e modular a expressão gênica.
Importante parênteses aqui para expressar minha admiração de sempre ao DAN, “Defeat Autism Now”, grupo de pais especialistas em bioquímica, medicina, nutrição e farmácia, que começaram a se reunir em 1995 para dividir todas as vivências com os pequenos, na riqueza dos detalhes, objetivando minorar a sintomatologia limitante e discutir “novos caminhos” no cuidado multidisciplinar à seus filhos. O movimento cresceu exponencialmente desde então e já envolve milhares de pais em todo o mundo! Infelizmente, há ainda certo ceticismo em relação à abordagem dos pais “especialistas” DAN; mas ao que começou por ser um movimento de bairro, onde o amor foi o início de tudo, juntaram-se profissionais de prestigiados centros médicos e conceituadas universidades. Hoje já há centros de investigação como o Autism Research Institute (www.autism.com) / Medical Academy of Pediatric Special Needs (www.medmaps.org) / Autism International Association (www.autismone.org) entre outras, beneficiando inúmeras crianças com o tratamento biomédico interdisciplinar.
Bem, voltando à parte que me cabe, é fato que as crianças com autismo ou TEA apresentam importantes desordens gastrintestinais. Estas, interferem na saúde da microbiota e culminam no quadro de HIPERPERMEABILIDADE INTESTINAL {alteração das gap junctions} facilitando a passagem de alimentos mal digeridos {macromoléculas} pelo intestino, que alcançam a corrente sanguínea e desencadeiam reações alérgicas, e /ou inflamatórias, super estimulando o sistema imunológico. É essencial então resgatar a integridade da barreira intestinal, com o reparo da mucosa ofertando especialmente vitamina A, glutamina e zinco, equilibrando também a microflora {com o pool adequado e individualizado de cepas probióticas} e repondo enzimas digestivas {através da manipulação ou mesmo com o uso inteligente de ervas e especiarias}
Além disso, é preciso eliminar os alérgenos alimentares…
- Glúten, proteína presente no trigo, centeio e cevada.
- Caseína, proteína presente no leite de vaca.
- Soja.
Tais alérgenos são eliminados via transversal; porém, a retirada de outros possíveis alérgenos alimentares como ovo, berinjela, tomate, nozes, abacate, pimenta… é efetuada frente à individualidade bioquímica. Limitar o consumo de cafeína pode-se também fazer necessário em alguns casos.
Mas não basta retirar, certo? É preciso a consciência de que na infância e juventude a oferta inadequada de micronutrientes pode gerar danos irreversíveis ao metabolismo ósseo, cerebral e cardiovascular. Então substituições inteligentes e eficientes são propostas por mim, com olhar especial à leucina, valina, o cálcio, vitaminas B1 e B2 e à colina.
E será que podemos fazer uma reintrodução tardia dos alimentos retirados frente à melhora da sintomatologia? Depende! Se o tratamento não foi bem conduzido, a dessensibilização pode não ter sido 100% efetiva… E mesmo diante de um excelente tratamento, se a reintrodução não for feita em esquema especial de rodízio e muito bem acompanhada, pode não trazer resultados positivos pois o organismo ainda é suscetível.
Suplementar ativos que resgatem a saúde e o bom funcionamento das estruturas cerebrais, sobretudo EPA {ácido eicosapentaenóico, POTENTE anti-inflamatório} e DHA {ácido docosahexaenóico, fundamental à comunicação neuronal} é ponto central do tratamento.
Tendo em vista o alto grau de stress oxidativo das crianças autistas ou que apresentam TEA, o “Turn Over” {consumo metabólico} de magnésio e vitamina B6 é considerável, resultando em grave deficiência de tais nutrientes. À medida em que os níveis sanguíneos vão voltando às concentrações adequadas frente à prescrição Ortomolecular, há enorme melhora na sintomatologia de irritabilidade e excitação, resultantes da efetiva nutrição celular e consequente regulação da expressão gênica.
Depurar xenobióticos {toxinas ambientais} e manter a glicemia é fundamental!
Agrotóxicos e metais pesados inundam muitas vias hormonais, interferindo diretamente no eixo HPA {hipófise – pituitária – adrenal} e muitas vezes exacerbando os sintomas comportamentais.
A dosagem de cádmio, mercúrio, chumbo, entre outros, é de extrema importância para avaliação da necessidade da terapia de quelação {ativos que prescritos de forma minuciosa na Ortomolecular são capazes de se ligar aos metais e eliminá-los do organismo}
…o açúcar e os aditivos alimentares, sobretudo os corantes, devem ser reduzidos ao mínimo. Não é por acaso que algumas marcas de gomas e gelatinas já têm inscrito nas embalagens o seguinte alerta: “pode induzir à hiperatividade”.
E por fim, mas não menos importante, CUIDAR do equilíbrio entre todas as células do sistema imunológico. Tópico este que requer extrema dedicação, pois extrapola a atenção nutricional… Sono, exercício, alívio de tensões e gerenciamento das emoções são variáveis que interferem de perto na saúde do sistema imune. E como alinhar tantos detalhes com esses jovens? Interdisciplinaridade é o caminho; e claro, o incondicional apoio dos pais!
Todas as condutas descritas são secundárias à CLÍNICA, que é soberana {como já falei algumas vezes e falo SEMPRE} com avaliação concomitante da bioquímica, exames metabólicos funcionais, bem como o coprológico, dosagem de metais pesados e por vezes, exames de imagem, para que eu possa então traçar a melhor estratégia no tratamento Nutricional & Ortomolecular.
Não há um protocolo que possa ser aplicado à todas as crianças… pois, se somos diferentes uns dos outros, nos jovens com autismo ou TEA essas diferenças são ainda mais marcantes! Arrisco-me a dizer que a única conduta transversal de fato, é a retirada do glúten, caseína e soja da rotina alimentar.
A prescrição Ortomolecular, as orientações nutricionais e as terapias comportamentais são SEMPRE individualizadas.
Recapitulando então o princípio da abordagem biomédica no autismo…
Retirar o que faz mal, repor o que faz falta e reequilibrar o que está desequilibrado rs com base na individualidade e com apoio na interdisciplinaridade.
Acima de tudo, MUITA COMPREENSÃO, CARINHO, AMOR E ACEITAÇÃO!