A insulina é um importante hormônio pancreático que promove a entrada de glicose nas células, promovendo assim redução da glicemia e participando do metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas. Quando o organismo não consegue produzir este hormônio, como ocorre em casos de diabetes tipo I, ou adquire a resistência à ele, nos casos de diabetes tipo II, uma série de alterações na homeostase é desencadeada. Dentre elas, as do Sistema Nervoso Central ganham destaque. Durante muitos anos acreditou-se que a insulina não tinha qualquer relação com esse sistema, mas ao longo dos anos 80, algumas pesquisas apontaram a presença do hormônio, bem como de seu receptor, no cérebro, indicando que a insulina era capaz de cruzar a barreira hematoencefálica. Na mesma década foi descoberto também que o hormônio desempenha papel importante no aprendizado e na memória, através de estudos com pacientes que injetavam ou ingeriam a insulina; os mesmos apresentavam melhora substancial na capacidade de recorrer à memória, tanto recente quanto antiga. Como o Sistema Nervoso demanda grande quantidade de energia total do organismo, a insulina é SIM essencial ao cérebro e desequilíbrios no status desse hormônio estão associados à doenças neurodegenerativas; não só ao Alzheimer, mas também à Doença de Parkinson e Huntington.
Recentemente, o anúncio de que o Alzheimer possa ser o estágio final no cérebro do diabetes tipo II, surpreendeu a todos. Na verdade, médicos e cientistas já estavam investigando essa hipótese há alguns anos. Em 2005, a doença de Alzheimer foi inicialmente denominada de “diabetes tipo III”. A resistência à insulina – necessidade de quantidades cada vez maiores de insulina para manter o nível normal de açúcar no sangue – marca registrada do diabetes tipo II, também pode levar a problemas cognitivos como perda de memória e confusão mental. Estudo realizado pelo grupo de pesquisadores liderados pela Dra. Susanne de La Monte, da Universidade Brown, nos Estados Unidos, identificou a razão pela qual as pessoas com diabetes tipo II apresentam maior risco em desenvolver a doença de Alzheimer. O hipocampo, responsável pela aprendizagem e memória, parece ser insensível à insulina, o que leva a crer que o cérebro também pode ser diabético assim como o fígado, os músculos e as células de gordura. A sugestão de que a doença de Alzheimer possa ser causada por uma espécie de “diabetes do cérebro” conduz a interpretação de que problemas de memória que muitas vezes acompanham o diabetes tipo II sejam de fato o estágio inicial do Alzheimer e não um mero declínio cognitivo. Recebendo uma dieta elaborada para induzir ao diabetes tipo II, os ratos estudados tiveram seus cérebros preenchidos com placas insolúveis da proteína beta-amiloide, condição fisio e neurológica característica do Alzheimer. Essas placas, aliás, têm também ganhado mais atenção na área médica, pois surgem algumas novas teorias de que elas em si não causam a sintomatologia clássica do Alzheimer e sim seus precursores oligômeros; dessa forma as placas seriam uma maneira que o cérebro encontra de tentar isolar os oligômeros tóxicos, ou seja, uma defesa, e não a real causa. A conclusão dos testes da Dra. Susanne é que, de fato, os ratos que receberam dieta rica em açúcar e carboidratos no geral, para induzir-lhes ao diabetes tipo II, tiveram a memória substancialmente afetada, sempre mais fraca do que os demais.
Acompanhando o progresso do envelhecimento de mais de 15 mil adultos de meia-idade durante 26 anos com avaliações da função cognitiva periódica de três em três anos, no estudo “Diabetes in Midlife Linked to Significant Cognitive Decline 20 Years Later”, Selvin, uma das autoras, concluiu que houve um declínio das funções cognitivas de 19% a mais do que o normal já esperado em participantes com diabetes mal controlado, e quedas menores em participantes com diabetes “sob controle” bem como aqueles no estágio que antecede o diagnóstico, chamado pré-diabetes.
Outro estudo que avaliou essa relação entre diabetes e demência, comandado pelo Dr. Nick Bryan, professor de radiologia da Universidade de Perleman, Escola de Medicina da Pensilvânia – Filadélfia, utilizou exame de ressonância magnética de imagem e observou o cérebro de 614 pessoas com diabetes tipo II há pelo menos 10 anos. Notou-se um encolhimento do cérebro que, segundo Bryan, pode estar relacionado com a forma como o açúcar é utilizado por este órgão. A maior parte da perda de volume cerebral ocorreu na matéria cinzenta, além de áreas envolvidas no controle muscular, visão, audição, memória, emoções, fala, tomada de decisão e autocontrole.
O desenrolar de todos estes estudos ressalta a importância da adequação da composição corporal através da nutrição, bem como a prática de exercícios, na prevenção das alterações glicêmicas que desequilibram o Sistema Nervoso Central e desencadeiam as doenças neurodegenerativas. O papel da Nutrição Funcional e Ortomolecular na saúde do cérebro é essencial. A principal estratégia é ajustar o consumo dos carboidratos em geral, não só os “açúcares” clássicos, dos quais todos já conhecem os malefícios. A oferta deve contemplar não apenas a quantidade, além da qualidade é claro, mas também os horários ajustados para cada indivíduo e a combinação com bioativos específicos que trabalhem na absorção e utilização de tais moléculas. Além disso, por influenciar diretamente o sistema imunológico, questões de alergia e intolerâncias alimentares, precisam receber especial atenção, seja por avaliação clínica, laboratorial ou ainda melhor, por ambas.
A neuroplasticidade cerebral, que pode ser amplamente estimulada através da Nutrição Funcional é de extrema importância, fazendo com que a regeneração cerebral seja uma realidade. E a Nutrigenômica é de grande valia, pois me fornece bases à inclusão de alimentos com alto potencial anti inflamatório; eles reduzem a ação dos genes que expressam inflamação, aumentando a produção de antioxidantes. Mas é preciso também eliminar todos aqueles com potencial pró inflamatório, além de estimular o consumo dos citados antes, para que através da neurogênese possa haver estímulo à regeneração das células do centro da memória e promoção da maior conectividade. As gorduras, sempre tão temidas, devem fazer parte da rotina alimentar. Os ômegas, em especial 7 e 9, melhoram a permeabilidade celular, otimizando as sinapses. Além desses três aspectos primordiais na abordagem nutricional, algumas outras questões como a oferta de aminoácidos específicos e oligoelementos ou mesmo neuro hormônios, precisam ser considerados no atendimento, prescrição e acompanhamento, sempre de acordo com a individualidade bioquímica, para uma boa evolução neurofisiopsicológica e assim melhor qualidade de vida.
Excelente matéria!