Quem já não se percebeu refletindo sobre o fato de tendo todas as nossas células do corpo o mesmo DNA, como os nossos órgãos guardam uma anatomia e também funções fisiológicas tão distintas? O progresso recente em epigenética nos ajuda a entender. Sabemos hoje que as células usam o seu material genético por diversas vias e assim os genes podem ser “ligados” e “desligados” resultando em um nível surpreendente de diferenciação tecidual em nosso corpo. Esse “ligar” e “desligar” é resultado das modificações epigenéticas, que ocorrem frente aos inúmeros estímulos ambientais, sendo a ingestão alimentar em associação à suplementação Ortomolecular, um dos mais importantes.
Tais mecanismos permitem a modulação da expressão de um determinado gene, sem que haja alterações na sequência do DNA; essa é uma das principais formas com que a célula se adapta ao ambiente e a qualquer outro contexto que exija readequação do sistema ao qual ela faz parte, de forma rápida, sem que a estabilidade do DNA seja alterada. São mecanismos dinâmicos e normalmente reversíveis; mas com potencial de permanência em determinadas situações, passíveis inclusive de transmissão entre gerações.
Há três principais mecanismos epigenéticos capazes de alterar o perfil de expressão gênica de uma célula: as alterações no DNA, como a metilação; as modificações na cromatina, como a acetilação de histonas; e, a expressão de micro RNAs, que são pequenos fragmentos de RNA não codificadores. Eles apresentam cerca de 15 a 21 pares de base, sintetizados no núcleo pela ação essencial da enzima Dicer e transportados para o citoplasma com a função principal de repressão gênica. Os micro RNAs guardam a expressiva capacidade de regular em cerca de 60% o genoma humano, revelando sua quase que essencialidade ao BEM VIVER.
Estas modificações {os mecanismos epigenéticos} em conjunto com outros mecanismos de regulação, são particularmente importantes durante o desenvolvimento embrionário; quando o momento exato de ativação da transcrição é crucial para assegurar uma diferenciação celular correta e predizer a saudabilidade na vida adulta.
Mas elas também podem ocorrer já na maturidade biológica em função do estilo de vida. Dentre o gerenciamento do stress, a importância da qualidade do sono para adequação do ritmo circadiano, o #CorpoEmMovimento e a consciência do pensar, do agir e do sentir, vou me ater aos hábitos alimentares e ao suporte Ortomolecular {via oral, tópica ou endovenosa}
Muitos nutracêuticos atuam incisivamente em diversos alvos epigenéticos ou alvos moleculares. São compostos bioativos, aminoácidos, ômegas, antioxidantes e nootrópicos capazes de regular a acetilação de histonas nos mais diversos tecidos, inclusive no cérebro, já que alguns deles têm a habilidade de transpor a barreira hematoencefálica.
O brócolis por exemplo, bem como outros vegetais crucíferos {agrião, mostarda, couve, alho poró, cebola roxa} é fonte de isotiocianatos que permitem o fácil acesso do RNA mensageiro à sequência de DNA, favorecendo sua transcrição. As frutas vermelhas e roxas são ricas em antocianinas, que diminuem a metilação de ADN em certos genes, especialmente no córtex pré-frontal e amídala {que faz parte do chamado cérebro profundo no qual primam as emoções básicas} O polifenol EGCG {epigalocatequina – 3 – galato} presente no chá verde, é capaz de inibir alguns processos de metilação; ele também aumenta a expressão de miRNA 155 e 223 no córtex pré-frontal, estrutura relacionada à percepção da dor, à depressão e ansiedade. A curcumina, principal bioativo do açafrão da terra, em associação à piperina da pimenta preta modula a cascata inflamatória e também a acetilação de histonas. Ela promove acetilação de H3 no núcleo magno da rafe, estrutura envolvida na inibição descendente da dor, e redução da expressão de GAD65, uma das enzimas relacionadas à síntese de GABA {neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central que auxilia na redução do stress}
Nos últimos anos, numerosos estudos epidemiológicos e experimentais in vivo mostraram sugestivos efeitos de modulação epigenética derivado dessas substâncias; em especial por meio da ativação de fatores transcricionais e reguladores epigênicos, sem no entanto desconsiderar as vias de inibição da iNOS e citocinas pró inflamatórias e da sinalização de AMPK – via relacionada à produção de energia e controle metabólico; as quais têm sido denominadas multialvos nutrigenômicos (TRIO et al., 2018).
Só à título de curiosidade… tenho usado em minha prática clínica a berberina, o black ginger e o Gynostemma pentaphyllum extract em associação ao cromo e ao vanádio para aumentar a expressão gênica da AMPK e incitar a regeneração do DNA. Os resultados têm me surpreendido, me mantendo cada vez mais empenhada nessa trajetória pessoal e profissional rumo ao que costumo chamar de Revolução da Longevidade.
Não é difícil perceber que as alterações epigenéticas estão envolvidas em importantes funções do organismo. De fato, elas estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento da plasticidade sináptica, memória, aprendizado e também em situações como desordens psiquiátricas, algumas doenças crônicas como a diabetes mellitus e no câncer. As células tornam-se malignas, ou cancerosas, quando modificações epigenéticas desativam genes supressores de tumores; os genes que evitam a proliferação celular excessiva. Sendo estas modificações epigenéticas reversíveis, sempre houve e ainda há, grande interesse na pesquisa científica para o achado de moléculas – especialmente de fontes dietéticas e/ou fitoquímicas – que possam reverter as alterações prejudiciais, atuando na prevenção, predição e/ou tratamento do câncer. A neurologia, a cardio e a endocrinologia também são incessantes nesta busca.
Modulação Epigenética: um campo promissor; que me fascina!
Quanto mais eu sei, mais eu sou e mais tenho a certeza de que SEMPRE haverá um novo caminho a percorrer…